Tamanho: 50 x 65
Materiais usados: tinta acrílica sobre papel
Myriam Marques
Sou Myriam Marques, tenho 47 anos, mãe da Yohana, de 23 anos e casada há 28 anos com meu primeiro namorado, Emerson. Sempre fui muito dedicada à família, querendo cuidar de tudo e de todos, mantendo as coisas sob controle pra que todos ficassem bem.
Professora de Educação Física desde 1995, vivia na correria que a profissão exigia e que eu mesma me colocava. Dava aulas de natação, fazia travessias e surfava como lazer. Meu mundo girava em torno da água e do mar, que era onde eu gostava e gosto de estar.
Mas, nessa trajetória, em 2003 passei por uma situação de risco de vida, quando tive uma apendicite supurada, com infecção generalizada, que resultou em 1 mês hospitalizada, à base de morfina e 4 meses sem conseguir forças nos membros inferiores pra ficar em pé, sem ajuda.
Na época, isso pra mim não tinha passado de uma mera tempestade, que na minha cabeça enfrentei e superei, sem me questionar do porquê.
Sempre fui FORTE e só focava em voltar à vida NORMAL. E assim foi.
Até que, em 2013, num exame de rotina, descobri um nódulo na mama esquerda e com ele o tão temido CÂNCER, sinônimo da morte em vida.
O choque levou algumas horas de negação, choro e sensação de chegar na finitude. E como não podia ser diferente, voltei a ser eu mesma, buscando resolver as coisas de forma prática e objetiva. Passei as horas, os dias e os meses seguintes correndo contra o tempo e o inimigo em mim. Realizei mastectomia, quimioterapia e passei por todo o processo físico e psicológico de um tratamento contra o câncer, com a ajuda do meu marido, familiares e amigos. Não me preocupei com a perda da mama e nem dos cabelos. Sobreviver era a meta. Eu os retirei sem me preocupar com a parte do feminino que não teria mais. E os cabelos cortei e doei pro Hospital Infantil Joana de Gusmão, junto com um microondas que eu ganhei de uma amiga pra fazer uma rifa e poder realizar minha cirurgia com emergência, pois pelo SUS eu levaria seis meses e não tinha esse tempo. Quem ganhou a rifa, não quis o prêmio, só queria me ajudar e devolveu. Bacana né?! Sorte das crianças com câncer do hospital, que estavam sem e ganharam um novinho. “Nada é por acaso.” Tudo esse carinho das pessoas, e ver aquelas crianças começou a despertar algo diferente em mim.
Meu tratamento da quimioterapia foi no CEPON e até hoje sou grata pelo profissionalismo, acolhimento e carinho que tive e sempre tenho lá. Digo que são nossos “anjos na terra”.
Chegava lá com alegria, confiança, entusiasmo e muita paciência. Não adiantava mais ter presa. Pressa de quê? Pra quê? O medicamento estava fazendo seu efeito, a minha rotina seria ir pra casa, não teria mais compromissos nem a correria de sempre. Percebi que as coisas estavam mudando dentro de mim. Nunca havia me sentido tão tranquila e tão em paz com tudo e comigo mesma. Não havia espaço pra ansiedade e preocupações. Era como se o tempo tivesse parado só pra mim. Como se eu estivesse anestesiada e blindada pra tudo que fosso ruim ou negativo. Viver naquele ambiente (CEPON) foi uma bênção para mim. Ver e conviver com pessoas que passavam o mesmo que eu e até em estágios mais complexos, me fez perceber o quanto somos frágeis e o quanto eu deveria ser grata, pois muitos deles, além da doença, carregavam uma bagagem de abandono, solidão e carência emocional e financeira. Eu percebia a tristeza e o medo em seus rostos. Naquele momento, dar e receber um sorriso e um abraço era tão importante pra gente. Tinha um significado tão especial. Isso me dava muita alegria e força. Conheci tanta gente bacana. Tantos se foram, mas muitos ainda estão aqui, lindos e fortes. É o ciclo da vida.
Enfim, o tratamento foi se estendendo e o corpo já não respondia com tanto vigor à quimioterapia. Dores, intercorrências, internações na emergência do CEPON. Aquela moça sorridente e forte (eu) teve também que se render. Precisei me permitir descansar e ser cuidada. Inclusive chorar por dor física e emocional. Não precisava e não preciso mais ser forte o tempo todo, não precisava e não preciso mais resolver tudo o tempo todo. Precisei, sim, entender e aceitar a realidade de que ninguém é eterno e que se um dia eu faltar, todos terão e darão um jeito de continuar vivendo. Precisei pensar, como cuidar ou ajudar alguém se não nos cuidarmos? Achei que seria mais difícil, mas quando temos pessoas amorosas, compreensivas e amigos verdadeiros, que nos ajudam a ver e a fazer o melhor para nós, tudo fica mais fácil. Sei que não são todos que tem essa sorte e eu tive, mais um motivo pra ser grata.
Tudo o que passamos faz parte de um processo de reconstrução, uma vida nova. Quando nos reinventamos, fazemos coisas diferentes e nos adaptamos a cada situação.
Eu passei boa parte do meu tratamento próxima do mar. Não mais surfando, mas fotografando quem surfava. Foi uma terapia. Eu ali, quietinha, careca, sentada, fotografando quem podia fazer o que eu sonhava voltar a saborear um dia, novamente e ver a alegria deles quando eu contava que os havia fotografado em uma manobra. Era impagável. Fiz muitos amigos que tenho até hoje. Eu os encontro no mar. Sim, porque voltei a surfar. Surfar e a fazer coisas que nunca pensei que faria, como ser voluntária. Hoje faço parte de uma associação de voluntárias que fazem ações em prol de pacientes com câncer. Coisa que nunca passou pela minha cabeça. Isso preenche os meus dias e me realiza.
Refletir sobre o verdadeiro motivo de nossa existência, da minha existência, do que eu poderia fazer por mim e por quem está ao meu redor fez parte do meu processo de cura. Não física, mas espiritual. Uma coisa ajuda a outra, de certa forma.
Eu não almejava e nem almejo ser perfeita, apenas melhor do que fui e tentar dar valor ao que realmente merece valor. Porque, inclusive, é durante o tratamento que conseguimos perceber a importância das coisas simples e das pessoas que fazem parte do nosso dia-a-dia. Não pretendo levar tudo a ferro e fogo, pois a vida é um sopro. Pra que guardar qualquer mágoa ou deixar de dar um bom dia a quem você ama, por uma discussão boba? Vou procurar mais tempo pra mim e para o próximo. Quero saber da importância da compaixão, mas também entender a necessidade de dar limites, pois tem coisas que não nos pertencem, que não são escolhas nossas.
Mas, acima de tudo, quero ser uma pessoa que tem gratidão. Gratidão por viver e poder aprender, um pouco a cada dia.
O câncer me veio como um sinal, de que eu ainda tenho a chance de evoluir como pessoa
Com 27 anos, a artista plastica Bruna Soares vem trabalhando com a tatuagem há 3 anos como meio de reconnexão com a arte ancestral. Seus trabalhos sao voltados para a simbologia e a mitologia. Nativa dos estados unidos, vive a oito anos no Brasil, mas vindo de linhagem cigana, sua arte reflete essa mistura de experiencias e sabedoria de culturas do mundo inteiro, tendo como foco aquilo que é e sempre foi característico do ser humano: Ornar, decorar, embelezar, personalizar, e honrar nosso espaço externo e interno.
Soares
Do dia 29 de Outubro até o dia 04 de Novembro a Exposição permanece montada e estará aberta para visitação de 12 horas até 18 horas.
As obras vendidas, terão parte do valor destinado à Associação Amigas Cleia Beduschi.
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Valor Obra: R$350.00